Não adianta rezar e fazer tudo errado

Dona Maria religiosamente vai à missa todo domingo de manhã. Acompanhada de seus netos, ao chegar a igreja faz-se o sinal da cruz, senta-se no banco da frente, ajoelha-se e põe-se a rezar o terço antes do padre chegar e começar a celebração.

Sai dali renovada espiritualmente, pronta para pôr em prática os ensinamentos de Jesus, ditos pelo padre, até se deparar com uma jovem vestida com uma saia e blusa curta. Em segundos, Dona Maria julga a garota pela vestimenta, chama-a de todo tipo de nome ruim, diz aos netos que essa não é o tipo de mulher certa e ainda termina dizendo um sonoro “Só por Deus mesmo”. 

Perto de casa, vê a vizinha com a esposa, critica-as e solta um “Sangue de Jesus tem poder”, entrando logo em seguida dentro da sua residência. Em casa, ao ligar a TV e ver o noticiário sobre a morte de um jogador, diz que o mesmo morreu porque “Foi Deus quem quis assim”. 

Dona Maria é igual a tantas outras pessoas que realizam seus rituais religiosos, mas usam o nome de Deus para disseminar seu ódio ou sua ignorância.Se o indivíduo morre, foi por que Deus quis assim; se a mulher casa-se com outra, é uma pecadora e logo Deus a mandará para o inferno; se dá tudo errado na vida de um cidadão, nada mais é do que a ira de Deus. 

O nome do Senhor é utilizado para justificar o ódio ao semelhante ou até mesmo como justificativa da hipocrisia. Quantas e quantas pessoas vão aos seus templos, praticam seus rituais e ao colocarem o pé pra fora, já espalham seu mal interior, alegando em nome do Ser Supremo? Ou denigrem, caluniam, humilham, desmerecem o próximo? 

Aqui se aplica o trecho da música de Fernando Mendes, Sorte tem quem acredita nela, onde ele fala que “Não adianta ir pra igreja rezar e fazer tudo errado”. E é isso mesmo, para que ir rezar, pedir bênçãos, se penitenciar, oferecer glórias, se no dia- a- dia, se você critica, julga, discrimina,destila seu veneno.

Para justificar o mal e a hipocrisia, tudo vale em nome de Deus.