19 de out. de 2017

Salve, Salve rio



Pobre rio que serpenteia a cidade. Abandonado, degradado, desgastado, devastado, em verdadeiro estado de putrefação. Este mesmo rio que deve cumprir com suas obrigações, garantir a sobrevivência dos animais, matar a sede das pessoas, suprir com as necessidades da espécie humana, operar o setor industrial dentre outras coisas.

Isso alimente, vitalize, dê vida, rejuvenesça, forneça nutrientes. Mas também receba os dejetos, metais pesados, leve um combo de televisão, guarda-roupa e colchão. Morra, padeça, agonize, enfraqueça, perca sua dignidade, mas não deixe de fluir, de gerir a economia, de atender aos desejos dos indivíduos.

Seja Tietê, Capibaripe, Rio Doce, Paraíba do Sul, Ipojuca, sejam explorados até seu íntimo, mas funcionem perfeitamente como o Tâmisa, Sena, Reno, Tejo. A Europa é outro mundo, mentes “evoluídas”, gastam bilhões em recuperação e na preservação de seus rios, aqui é Brasil, a natureza só é digna de conservação se der lucro, para que gastar “rios” de dinheiro em proteção? Polua um, há tantos outros para serem consumidos.

Como somos abomináveis, maquiavélicos, execráveis. Cagamos e jogamos as nossas merdas no rio, é isso aí, a porra do rio se recupera, faz parte da natureza se regenerar. Se limpe rio, faça isso sozinho, a humanidade tem sede, receba nossos excrementos e retorne limpo para as casas.

No dia 22 de março, dia Mundial da Água, em apenas um único dia, é importante fazer celebração, eventos, projetos, fazer ação para retirada do lixo nos rios. Mas olha, só nesse dia okay, todo mundo tem outras atribuições a cumprir, pagar de ecológico em um dia já está de bom tamanho, o rio...o rio que se foda, ele não vai acabar.

E segue o rio de encontro ao mar. Ensanguentado, encardido, sem vida. Acolhendo a todos e recebendo nada em troca. 

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